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A força das micro e pequenas empresas para a economia do País

Luiz Carlos de Assis Elas são 98% de todas as empresas. Em tempos de crise e recessão, demoram mais a demitir, porque o ambiente é pessoal, às vezes francamente familiar. Quando a economia retoma, são as primeiras a fazer novas contratações – a medida é mais a decisão do empresário e sua experiência e menos os cálculos de retorno de investimento ou metas de lucros por ação. Com suas eventuais limitações, econômicas ou operacionais, micro e pequenas empresas formam um dos pilares da economia nacional: de acordo com fontes oficiais, são cinco milhões de empresas, que respondem por 28% do faturamento corporativo; são 20% do Produto Interno Bruto (PIB); garantem cerca de 53% dos empregos em todo o País – 67% em São Paulo. No último semestre, porém, as micro e pequenas empresas (MPEs) paulistas amargaram uma pequena queda de 1,5% no faturamento em comparação ao primeiro semestre do ano passado, já descontada a inflação. De acordo com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), o comércio foi o único setor com desempenho positivo no período – seu faturamento aumentou 1,2%. As maiores perdas foram verificadas na indústria, com redução de 6,1%, seguida dos serviços, com perda de 3,2%. A receita total do período foi de R$ 128,5 bilhões. Há sinais de reversão desse quadro. Em junho, o faturamento real das pequenas indústrias já foi 5,6% maior do que em maio. "Isso é um indício do retorno à trajetória de crescimento, possivelmente associado aos primeiros pedidos do final do ano", analisa Marco Aurélio Bedê, gerente do Observatório das Micro e Pequenas Empresas do Sebrae-SP. Por conta disto, Ricardo Tortorella, diretor-superintendente do Sebrae-SP, prevê que 2008 "não seja tão bom quanto estávamos projetando, mas ainda assim as micro e pequenas empresas devem fechar com desempenho igual ao do ano passado (alta de 4% do faturamento real em comparação com 2006) ou com uma pequena alta nas vendas. O primeiro semestre foi prejudicado pela inflação, mas no segundo semestre o impacto da alta dos preços será menor para as pequenas empresas". No ano passado, as micro e pequenas empresas (MPEs) paulistas tiveram tudo a comemorar. Números da Sebrae-SP mostram que todos os resultados foram altamente favoráveis – os melhores desde 2002 – graças a uma combinação de fatores que levou as empresas àquele crescimento de 4% em relação a 2006. Um ano antes, a MPEs paulistas tinham amargado uma perda de 3,5%. "Em 2006, os juros elevados e a concorrência dos produtos importados haviam prejudicado o desempenho das pequenas empresas. Em compensação, em 2007, o cenário de inflação em baixa, queda de juros, recuperação da renda do trabalhador e o aumento das opções de crédito ao consumidor levaram à ampliação do consumo das famílias, possibilitando um cenário mais próspero ao mercado interno", explica Marco Aurélio Bedê, do Sebrae-SP. "Além de as variáveis macroeconômicas terem contribuído para o bom desempenho – disse Tortorella –, a aprovação da Lei Geral ajudou a criar um ambiente mais otimista para os pequenos negócios”. E esse ambiente deverá ser ainda mais favorável agora, na medida em que vários itens da lei, como as compras governamentais e o maior acesso à tecnologia, sejam regulamentados nos Estados e nos municípios. resários otimistas A pesquisa da Sebrae-SP em julho mostra que os empresários paulistas estão mais otimistas em relação ao próximo semestre. Cerca de 45% dos empresários ouvidos pela entidade, no levantamento Indicadores Sebrae-SP, esperam faturar mais nos próximos seis meses. O índice é de dez pontos percentuais acima do detectado em junho, quando 35% dos entrevistados acreditavam ter aumento de faturamento nos próximos seis meses. O cenário para a economia brasileira neste semestre também é positivo: 43% dos entrevistados em julho esperavam melhora da economia brasileira nos próximos seis meses, sobre 33% no mês de junho. "A melhora nas expectativas dos empresários pode ser atribuída à movimentação que já se detecta na economia para atender as vendas de final de ano, particularmente no setor da indústria", explica Bedê. Especialistas continuam projetando crescimento da economia brasileira, devido à melhora do mercado interno, a partir da recuperação da renda do trabalhador e da expansão da oferta de crédito ao consumidor. Nesse quadro, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 5,8% no 1º trimestre de 2008 sobre o 1º trimestre de 2007. Nos próximos meses, de acordo com o Banco Central do Brasil (Bacen), os analistas de mercado prevêem crescimento em ritmo menor: 4,8%. Entre os fatores que contribuem para essas projeções de crescimento mais modesto estão o aumento da inflação, que reduz o poder de compra da população, e a estratégia de aumentos nas taxas de juros. Analistas de mercado projetam inflação de 6,58% para 2008, medida pelo IPCA do IBGE. A meta estipulada para o IPCA em 2008 é de 4,5%, com dois pontos percentuais de tolerância. Mais trabalho O rendimento dos empregados nas MPEs apresentou variação positiva de 3,5% no semestre contra igual período do ano passado. O setor que apresentou maior taxa de crescimento na remuneração dos empregados foi o comércio, com aumento de 4,4%, seguido pelos serviços, que pagou salários e gratificações 3,5% maiores que igual período do ano passado. O Grande ABC foi a região onde se verificou o maior aumento no rendimento dos empregados das MPEs, com índice 7,4% maior que o mesmo período do ano passado, seguido pelo Interior (3,6%), pela Região Metropolitana de São Paulo (2,5%) e pela Capital (2,3%). De maneira geral, considerando os três setores, na média das MPEs paulistas o gasto com folha de salários apresentou uma queda média de 4,4%, comparado a igual período do ano passado. De acordo com Marco Aurélio Bedê, coordenador da pesquisa, em média, as empresas estão se tornando mais enxutas de pessoal. Assim, embora o rendimento por empregado esteja aumentando, o gasto total das empresas com folha de salários apresenta redução: "Mais empresas estão sendo abertas, mas, na média, as empresas novas são cada vez menores em termos de pessoal. Assim, o número total de empresas e de empregados cresce no setor dos pequenos negócios, e verificamos uma redução do porte médio dessas empresas". A maior queda do gasto médio com folha de salários foi verificada no setor de serviços, com menos 8,8%, seguido da indústria (-3,8%) e do comércio (-1,7%). Por região, as empresas do Interior foram as que gastaram menos com salários (-6,3%). A seguir, vêm a Capital e o Grande ABC, com variação negativa de -4,3% e -4,0% respectivamente. O índice de pessoal ocupado médio por empresa também apresentou queda no primeiro semestre de 4,2% no total geral, incluindo os três setores. A maior queda foi verificada no setor de serviços (-5,3%), seguida pelo comércio (-4,7%) e pela indústria (-1,4). Por regiões, a maior redução ocorreu no Grande ABC (-8,6%), seguido do Interior (-4,5%), do município de São Paulo (-4,3%) e da Região Metropolitana, com queda de 3,9%.

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